Neues aus der Welt der Ohrwürmer



Nach neuesten Erkenntnissen scheint es wohl eine seltene Form der Mutation deseararuswurmus extremus bei einigen betroffenen Patienten zu geben.

Gerade beim Umgang mit Werbeliedern reagieren einige Probanten äußerst aggressiv beim zu häufigen Hören einiger Jingles, wie es im Fachmund heißt. Besonders im bayuvarischem Raum ist dieses Verhalten am häufigsten zu beobachten. Schon seit Jahren wird offensichtlich immer wieder das gleiche Pfeifen in einer bekannten Werbung gespielt. Was als Wiedererkennungsmelodie gedacht war, scheint inzwischen eine eher negative Abneigung auszulösen. Sehr viele Patienten reagieren mit roten Augen und Wutausbrüchen auf eben dieses Geräusch. Man könnte es auch als erste Anzeichen eines allergisches Verhalten deuten.

Gleichfalls wurde in dieser Untersuchung festgestellt, dass viele Probanten eine Melodie hören, obwohl dieses schon lange nicht mehr in den entsprechenden Medien lief, alleine nur durch die erbrachte Tatsache, dass sie das anbeworbene Produkt in den Händen hielten.

Diese Form des Ohrwurmsbefalls ist äußert bedenklich und lässt nur den einzigen Schluss zu, dass man zukünftig Werbesendungen tunlichst meiden sollte, wenn man keinen Rückfall erleiden will. Ebenso sollten gerade Patienten mit Neigung zu aggressivem Verhalten Sendungen dieser Art gar nicht sehen oder hören. Sonst bestehe Gefahr für das eigene Leben und das seiner Umwelt.

Wir vom neu gegründeten Fachverband für Ohrwurmbefalls halten sie auch weiter auf dem Laufenden.


Nach neuesten Erkenntnissen scheint es wohl eine seltene Form der Mutation des eararuswurmus extremus bei einigen betroffenen Patienten zu geben.

Gerade beim Umgang mit Werbeliedern reagieren einige Probanten äußerst aggressiv beim zu häufigen Hören einiger Jingles, wie es im Fachmund heißt. Besonders im bayuvarischem Raum ist dieses Verhalten am häufigsten zu beobachten. Schon seit Jahren wird offensichtlich immer wieder das gleiche Pfeifen in einer bekannten Werbung gespielt. Was als Wiedererkennungsmelodie gedacht war, scheint inzwischen eine eher negative Abneigung auszulösen. Sehr viele Patienten reagieren mit roten Augen und Wutausbrüchen auf eben dieses Geräusch. Man könnte es auch als erste Anzeichen eines allergisches Verhalten deuten.

Gleichfalls wurde in dieser Untersuchung festgestellt, dass viele Probanten eine Melodie hören, obwohl dieses schon lange nicht mehr in den entsprechenden Medien lief, alleine nur durch die erbrachte Tatsache, dass sie das anbeworbene Produkt in den Händen hielten.

Diese Form des Ohrwurmsbefalls ist äußert bedenklich und lässt nur den einzigen Schluss zu, dass man zukünftig Werbesendungen tunlichst meiden sollte, wenn man keinen Rückfall erleiden will. Ebenso sollten gerade Patienten mit Neigung zu aggressivem Verhalten Sendungen dieser Art gar nicht sehen oder hören. Sonst bestehe Gefahr für das eigene Leben und das seiner Umwelt.

Wir vom neu gegründeten Fachverband für Ohrwurmbefalls halten sie auch weiter auf dem Laufenden.

Desabafos.


Confesso que ando bem desestimulada para postar nesse bolg ( nada pessoal é claro) porém é que ando ultimamente sem muita inspiração para publicar textos na verdade tenho pouca coisa pra falar da minha vidinha medríocre e sem rumo...
Ando muito confusa em relação as minhas coisas.. trabalhando.. dando o melhor de mim o qual eu nem sabia que existia...

Ah.. as pessoas me cobrando pelo fato da minha instabilidade sentimental...
Powww é simples ... nesse momento eu queria alguém, que mora nos cafundés de judá... só isso!!!!!!!!!! Eu não vou ficar com qualquer cara só pq todos estão dizendo que eu estou encalhada sabe???? NÃO VOU MESMO!!!!!

Eu sou totalmente PLATÔNICA nisso aí...
EU QUERO O CARA PERFEITO ...
EU SEI QUE ELE EXISTE...

E vou esperar por ele ... xD



Na vitrola: Free - Remember.

Turn Out the Stars*


Mario Schifano - Stelle

Mas devagarinho. Como quem se deixa ir para dentro de um sono profundo. Sabendo que amanhã acordará. Como sempre. Talvez apenas não tão pontualmente.

* Bill Evans (4:55) in 'Turn Out the Stars: Final Village Vanguard Records'

" Por que afinal existem amigos mais chegados do que um irmão" .


A cah dedicou um post pra mim.. sendo assim faço o mesmo!

Não há memória
Onde não apareçam
E nem lembranças
Em que elas não estejam
Tanto nos dias tristes e felizes
Foi com elas que eu ri e chorei (2x refrão)

Se estou longe as sinto por perto
Nunca ninguém vai nos separar
Elas guardam
Todos meus segredos
É um tesouro a nossa amizade (2x refrão)

Amigas, amigas
Companheiras da minha vida
Amigas
Com vocês eu inventei
Um mundo de carinho
A dividir com vocês
Amigas
As melhores que sonhei
Amigas, amigas
Presentes da minha vida
Amigas
Com vocês eu aprendi
Que juntas
Jamais seremos vencidas

Amigas
Amigas para sempre


Amigas - Chiquititas.



Na vitrola: King Crimson - I talk to the wind. (l)

Procuro por alguma coisa assim. Desse jeito. Que a gente possa pegar, passar por ali e trazer para cá. Indica-me o caminho por onde devo seguir? Sabe quem posso procurar? Mas, como assim? Não entendeste o que tanto quero? Tão simples, tão elementar. Um instrumento primário de dois ou mais lados. E você pega assim, faz assim, deixa desse jeito e arruma para este lado. Da forma como estou mostrando. Um lado fica para cá e os outros dois para lá. Se forem mais, a composição é mais ou menos desta forma.
Procuro, procuro, procuro e nunca acho! Tão difícil para algo tão simples! Tão tão, que tão pouco acho complicado. Mas tanto me dificultam os caminhos que levam.
Não há placas, indicações... Tampouco pessoas que saibam. Mas se digo que é assim, não há dúvidas! É assim, e ponto. Compreendes?
Não!
Assim não!
Esforce-se mais! Assim não consegues ajudar-me. Dessa forma não me és útil. Teus trejeitos agem tão, como eu poderia dizer... Tão. Isso. Tão. É! Assim! Quero que faça dessa forma. Por ali, não por aqui. Isto por cima e este por baixo. Pegue aqui e leve para lá. Movimente dessa forma e... voilá!


Na vitrola: The Mahavishnu Orchestra - Meeting of the Sprits

Curvatura no espaço-tempo


Se não fosse o tic tac do relógio que cisma em bater em cima da cabeceira e lembrar que o tempo passa, as folhas caem, a vida acaba, as coisas simplesmente aconteceriam, as árvores continuariam a dar flores e as valsas durariam para sempre. É o maldito tic tac que faz tic e tac e não para nunca de fazer e de lembrar e de espirrar na face de quem vive esse tal maldito de tempo relativo. E se o Einstein vivesse no ano em que a internet tornou tudo instantâneo e que nos acham a qualquer momento via celular, matar-se-ia ao som de Bach tocado em violão por um fio de notebook sob o peso de uma máquina de costura antiga. Maçãs caem em nossas cabeças todos os dias e esquecemos-nos de pensar nelas porque ouvimos aquele som do tic tac que se confunde com barulhos de telefones celulares por todas as esquinas. Ah, se a garrafa de coca cola realmente pudesse dizer alguma coisa para os nossos gênios mortos diria que as maçãs perderam a sua beleza e que as línguas são mostradas ao leu, sem que ninguém mais note. A branca de neve morreu e nenhum anão foi ao seu enterro, os anões comemoravam bebendo chopp no bar da esquina enquanto a malvada bruxa fazia luzes californianas no cabelo, por cima de uma escova progressiva. As fadas têm novos contos. Contos em papel impresso que o ácido corrosivo da coca cola tratou de destruir e o vírus de um cavalo (que não era branco e não tinha príncipe) levaram para longe do personal computer.


Na vitrola : Rainbow o dia inteiro.

Post sem título - Parte I.


De trabalho pelo todo concluído, do incompleto reconstruído a três, a dez, a mil. Menos trinta graus de febre pela pêlo pele sensível, organismo revirado atmosfera podre. Insensível. À flor da pele, na verdade. Insensível. Revirando pelos mares que ninguém vê, debochando de olhares suburbanos, íntimos, reclusos. O mel não grudava, escorria pela superfície insana de corredeiras incontroláveis, amontoadas, instáveis. Incertezas de eternos pensamentos vãos inconformados do éter presente. Com laços grandes de fitas largas, flores, de pele, de não, de tudo, descontrole, música. Explosão vulcânica abrupta simples destrutiva insone dedos abraços compatíveis estéril vil vão não sim. Paralelepípedo. Quebra-se a linha de fios finos e fixos de um cordão sem fim. Imagem crua, ataque pincelado, gravura complexa, branca, pastel, sentimento união. Amor, desejo, paixão, dedos e braços, pernas e beijos, rins e unhas. Asco. Do andar imaginado perdão no ponto reparador, neve que não cai, rola.


Na vitrola: Rainbow - Run with the wolf.
São 6h. O despertador canta de galo e eu não tenho forças nem para atirá-lo contra a parede.

Estou tão acabada, não queria ter que trabalhar hoje.

Quero ficar em casa, cozinhando, ouvindo música, cantarolando, até! Se tivesse filhos, gastaria a manhã brincando com eles. Se tivesse cachorro, passeando pelas redondezas. Aquário? Olhando os peixinhos nadarem. Espaço? Fazendo alongamento. Leite condensado? Brigadeiro.

Tudo menos sair da cama, engatar uma primeira e colocar o cérebro pra funcionar. Gostaria de saber quem foi a mentecapta, a matriz das feministas que teve a infeliz idéia de reivindica direitos da mulher e por que ela fez isso conosco, que nascemos depois dela.

Estava tudo tão bom no tempo das nossas avós, elas passavam o dia a bordar, a trocar receitas com as amigas, ensinando-se mutuamente segredos de molhos e temperos, de remédios caseiros, lendo bons livros das bibliotecas dos maridos, decorando a casa, podando árvores, plantando flores, colhendo legumes das hortas, educando crianças, freqüentando saraus, a vida era um grande curso de artesanato, medicina alternativa e culinária….

Aí vem uma fulaninha qualquer que não gostava de sutiã tampouco de espartilho, e contamina várias outras rebeldes inconseqüentes com idéias mirabolantes sobre “vamos conquistar o nosso espaço”.

QUE ESPAÇO, MINHA FILHA.

Você já tinha a casa inteira, o bairro todo, o mundo ao seus pés. Detinha o domínio completo sobre os homens, eles dependiam de você para comer, vestir, e se exibir para os amigos, que raio de direitos requerer? Agora eles estão aí todos confusos, não sabem mais que papéis desempenhar na sociedade, fugindo de nós como o diabo da cruz!

Essa brincadeira de vocês acabou é nos enchendo de deveres, isso sim!

E, PIOR, nos largando no calabouço da solteirice aguda. Antigamente, os casamentos duravam para sempre.

Por que, me digam por que, um sexo que tinha tudo do bom e do melhor,que só precisava ser frágil, foi se meter a competir com o macharedo? Olha o tamanho do bíceps deles, e olha o tamanho do nosso… Tava na cara que isso não ia dar certo.

Não agüento mais ser obrigada ao ritual diário de fazer escova, maquiar, passar hidratantes, escolher que roupa vestir, que sapatos, acessórios, que perfume combina com meu humor, nem de ter que sair correndo, ficar engarrafada, correr risco de ser assaltada, de morrer atropelada, passar o dia ereta na frente do computador, com o telefone no ouvido, resolvendo problemas.

Somos fiscalizadas e cobradas por nós mesmas a estar sempre em forma, sem estrias, depiladas, sorridentes, cheirosas, unhas feitas, sem falar no currículo impecável, recheado de mestrados, doutorados, e especialidades.

Viramos “super-mulheres”, mas continuamos a ganhar menos do que eles….

Não era muito melhor ter ficado fazendo tricô na cadeira de balanço?

CHEGA!

Eu quero alguém que abra a porta para eu passar, puxe a cadeira para eu sentar, me mande flores com cartões cheios de poesia, faça serenatas na minha janela…

Ai, meu Deus, são 7h30, tenho que levantar!

E tem mais… que chegue do trabalho, sente no sofá, coloque os pés pra cima e diga “meu bem, me traz uma dose de whisky, por favor?”, pois eu descobri que é muito melhor servir.

Ou pensam que eu tô ironizando? Tô falando sério! Estou abdicando do meu posto de mulher moderna… Troco pelo de Amélia. Alguém mais se habilita? Antes eu sonhava, agora nem durmo mais.


Por Lealcy B. Junior.


Na vitrola: Elephant Gun - Beirut.

Havia apenas um poste aceso.

O bairro mergulhado na escuridão do caos. Nem as estrelas ousavam brilhar.

Um negro gato espiava da quina do muro de concreto, seus olhos cinza-esverdeados faiscando assustadores. Um barulho qualquer o espantou, ele correu longe, perdeu-se no breu completo. Uma latinha de cerveja barata rolava pela calçada.

Nem o vento provocava sequer ruído audível; apenas contentava-se em espalhar as folhas secas e os papéis de propaganda pelo bairro afora, mergulhado no silêncio da noite. Um uivo de cão ouviu-se ao longe, misturou-se com o silêncio absoluto. Uma rã se escondeu entre o mato do terreno esquecido.

Todas as luzes estão apagadas. Nem uma janela, nem uma varanda iluminada. Não havia viv’alma pelas ruas. Estariam dormindo, pobres almas humanas? Ou se escondendo no vácuo, no nada? Com medo do silêncio, atordoante silêncio, absoluto silêncio de seus corações.

Não, eles não estão dormindo. Estão por aí, perdidos pela noite, embriagados de prazer e de sonhos.

As luzes dos homens estão apagadas. Estão eles mergulhados no vazio, na escuridão, como o bairro, a cidade, o planeta, o universo. É pequeno o universo dos homens. Mas nele cabem todos os mistérios, todos os desejos dos homens.

Estará o universo dos homens mergulhado na escuridão total, absoluta, inatingível, como está o bairro mergulhado no caos? Estará o homem mergulhado no caos? O coração dos homens está vazio, cercado do mais profundo silêncio. O homem está perdido, à procura do brilho das estrelas de esperança em seu universo. Enquanto isso, os homens tentam esquecer seu destino enigmático, apagando a luz de sua alma, entregando-se à escuridão do caos da vida.

O negro gato volta à esquina do muro de concreto, acompanhado. Os miados se perdem pela imensidão da noite.


Na vitrola : Black Sabbath - Die Young.

DES (motivo).



Escrevo porque o tempo insiste
e a minha vida está incompleta.
Ora sou alegre, ora triste:
Sou poeta.

Fujo das coisas fugidias,
no entanto delas é que eu faço
meu gozo, meu tormento e dias
no traço.

Nestes versos que edifico,
não sei se fico ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Este é o meu canto: um nada que é tudo,
notas do tempo em que, disperso,
sei-me entoando um canto mudo:
— mais nada.


Na vitrola: vitrola Des (ligada).

Take the "A" train.


"Chuffa, chuffa, chuffa. Choo choo. Woo woo."
Kurt Vonnegut Jr


"Por que os trens do Metrô não podem apitar como as locomotivas a vapor?" pensou Júlia enquanto esperava na plataforma. "Seria divertido". Sorriu. De qualquer modo, quando se tem dezenove anos, e se está no primeiro ano da faculdade, pode-se perfeitamente pensar tais coisas. Como também esquecer o bilhete magnético nas páginas de um livro. E então ter que comprar outro, e logo reencontrar o primeiro e pensar: "Que tonta que eu sou! Agora tenho o bastante. Que bom!"

Na mesma plataforma, mas pelo menos dez minutos adiantado, estava Fábio. Mais velho, vestia um terno xadrez desalinhado, o jornal tentando escapar da pasta, o guarda-chuva portátil de prontidão. Fábio gostava de jazz e justamente naquele momento recordava uma de suas músicas favoritas: "Take The 'A' Train", de Duke Ellington.

Fábio admirava o Metrô: sua racionalidade concreta de aço escovado; seu elegante e democrático piso de granito polido. Mesmo assim nunca lhe ocorreu associar uma coisa com a outra. Duke Ellington eram as noites de piano solo de sábado e as manhãs de domingo com a orquestra a todo volume; o Metrô era o cotidiano, de segunda a sexta, no que havia de mais imediato e permanente.

Fábio tinha ainda o curioso hábito de evitar as escadas rolantes. Não por medo. Certa vez perguntaram-lhe: "Por quê?" "Não sei. Não se deve evitar esse tipo de esforço", respondeu. "E pelo menos nisso obedeço à minha cardiologista", acrescentou. Daí enfrentava com resignação as longas escadarias. "Não sou melhor do que ninguém." E até gostava desse exercício de paciência na contra-mão de toda pós-modernidade e suas decepções.

Finalmente, o trem chegou e ambos (e todos os demais) embarcaram. Júlia desceu na Sé, enquanto Fábio desceu na Paraíso para seguir até a Consolação. Também poderia ser o contrário (as vantagens da ficção) e os trens do Metrô poderiam de fato apitar como queria Júlia e terem a letra A e Duke Ellington como queria Fábio estar com Júlia. Se ao menos, também ele, pudesse encontrar um bilhete esquecido nas páginas de um livro, como uma flor.


Na vitrola: MCcoy Tyner - Three Flowers.

Sobre o Amor.


Ferreira Gullar


Houve uma época em que eu pensava que as pessoas deviam ter um gatilho na garganta: quando pronunciasse — eu te amo —, mentindo, o gatilho disparava e elas explodiam. Era uma defesa intolerante contra os levianos e que refletia sem dúvida uma enorme insegurança de seu inventor. Insegurança e inexperiência. Com o passar dos anos a idéia foi abandonada, a vida revelou-me sua complexidade, suas nuanças. Aprendi que não é tão fácil dizer eu te amo sem pelo menos achar que ama e, quando a pessoa mente, a outra percebe, e se não percebe é porque não quer perceber, isto é: quer acreditar na mentira. Claro, tem gente que quer ouvir essa expressão mesmo sabendo que é mentira. O mentiroso, nesses casos, não merece punição alguma.

Por aí já se vê como esse negócio de amor é complicado e de contornos imprecisos. Pode-se dizer, no entanto, que o amor é um sentimento radical — falo do amor-paixão — e é isso que aumenta a complicação. Como pode uma coisa ambígua e duvidosa ganhar a fúria das tempestades? Mas essa é a natureza do amor, comparável à do vento: fluido e arrasador. É como o vento, também às vezes doce, brando, claro, bailando alegre em torno de seu oculto núcleo de fogo.

O amor é, portanto, na sua origem, liberação e aventura. Por definição, anti-burguês. O próprio da vida burguesa não é o amor, é o casamento, que é o amor institucionalizado, disciplinado, integrado na sociedade. O casamento é um contrato: duas pessoas se conhecem, se gostam, se sentem a traídas uma pela outra e decidem viver juntas. Isso poderia ser uma coisa simples, mas não é, pois há que se inserir na ordem social, definir direitos e deveres perante os homens e até perante Deus. Carimbado e abençoado, o novo casal inicia sua vida entre beijos e sorrisos. E risos e risinhos dos maledicentes. Por maior que tenha sido a paixão inicial, o impulso que os levou à pretoria ou ao altar (ou a ambos), a simples assinatura do contrato já muda tudo. Com o casamento o amor sai do marginalismo, da atmosfera romântica que o envolvia, para entrar nos trilhos da institucionalidade. Torna-se grave. Agora é construir um lar, gerar filhos, criá-los, educá-los até que, adultos, abandonem a casa para fazer sua própria vida. Ou seja: se corre tudo bem, corre tudo mal. Mas, não radicalizemos: há exceções — e dessas exceções vive a nossa irrenunciável esperança.

Conheci uma mulher que costumava dizer: não há amor que resista ao tanque de lavar (ou à máquina, mesmo), ao espanador e ao bife com fritas. Ela possivelmente exagerava, mas com razão, porque tinha uns olhos ávidos e brilhantes e um coração ansioso. Ouvia o vento rumorejar nas árvores do parque, à tarde incendiando as nuvens e imaginava quanta vida, quanta aventura estaria se desenrolando naquele momento nos bares, nos cafés, nos bairros distantes. À sua volta certamente não acontecia nada: as pessoas em suas respectivas casas estavam apenas morando, sofrendo uma vida igual à sua. Essa inquietação bovariana prepara o caminho da aventura, que nem sempre acontece. Mas dificilmente deixa de acontecer. Pode não acontecer a aventUra sonhada, o amor louco, o sonho que arrebata e funda o paraíso na terra. Acontece o vulgar adultério — o assim chamado —, que é quase sempre decepcionante, condenado, amargo e que se transforma numa espécie de vingança contra a mediocridade da vida. É como uma droga que se toma para curar a ansiedade e reajustar-se ao status quo. Estou curada, ela então se diz — e volta ao bife com fritas.

Mas às vezes não é assim. Às vezes o sonho vem, baixa das nuvens em fogo e pousa aos teus pés um candelabro cintilante. Dura uma tarde? Uma semana? Um mês? Pode durar um ano, dois até, desde que as dificuldades sejam de proporção suficiente para manter vivo o desafio e não tão duras que acovardem os amantes. Para isso, o fundamental é saber que tudo vai acabar. O verdadeiro amor é suicida. O amor, para atingir a ignição máxima, a entrega total, deve estar condenado: a consciência da precariedade da relação possibilita mergulhar nela de corpo e alma, vivê-la enquanto morre e morrê-la enquanto vive, como numa desvairada montanha-russa, até que, de repente, acaba. E é necessário que acabe como começou, de golpe, cortado rente na carne, entre soluços, querendo e não querendo que acabe, pois o espírito humano não comporta tanta realidade, como falou um poeta maior. E enxugados os olhos, aberta a janela, lá estão as mesmas nuvens rolando lentas e sem barulho pelo céu deserto de anjos. O alívio se confunde com o vazio, e você agora prefere morrer.

A barra é pesada. Quem conheceu o delírio dificilmente se habitua à antiga banalidade. Foi Gogol, no Inspetor Geral quem captou a decepção desse despertar. O falso inspetor mergulhara na fascinante impostura que lhe possibilitou uma vida de sonho: homenagens, bajulações, dinheiro e até o amor da mulher e da filha do prefeito. Eis senão quando chega o criado, trazendo-lhe o chapéu e o capote ordinário, signos da sua vida real, e lhe diz que está na hora de ir-se pois o verdadeiro inspetor está para chegar. Ele se assusta: mas então está tUdo acabado? Não era verdade o sonho? E assim é: a mais delirante paixão, terminada, deixa esse sabor de impostura na boca, como se a felicidade não pudesse ser verdade. E no entanto o foi, e tanto que é impossível continuar vivendo agora, sem ela, normalmente. Ou, como diz Chico Buarque: sofrendo normalmente.

Evaporado o fantasma, reaparece em sua banal realidade o guarda­roupa, a cômoda, a camisa usada na cadeira, os chinelos. E tUdo impregnado da ausência do sonho, que é agora uma agulha escondida em cada objeto, e te fere, inesperadamente, quando abres a gaveta, o livro. E te fere não porque ali esteja o sonho ainda, mas exatamente porque já não está: esteve. Sais para o trabalho, que é preciso esquecer, afundar no dia-a-dia, na rotina do dia, tolerar o passar das horas, a conversa burra, o cafezinho, as notícias do jornal. Edifícios, ruas, avenidas, lojas, cinema, aeroportos, ônibus, carrocinhas de sorvete: o mundo é um incomensurável amontoado de inutilidades. E de repente o táxi que te leva por uma rua onde a memória do sonho paira como um perfume. Que fazer? Desviar-se dessas ruas, ocultar os objetos ou, pelo contrário, expor-se a tudo, sofrer tudo de uma vez e habituar­se? Mais dia menos dia toda a lembrança se apaga e te surpreendes gargalhando, a vida vibrando outra vez, nova, na garganta, sem culpa nem desculpa. E chegas a pensar: quantas manhãs como esta perdi burramente! O amor é uma doença como outra qualquer.

E é verdade. Uma doença ou pelo menos uma anormalidade. Como pode acontecer que, subitamente, num mundo cheio de pessoas, alguém meta na cabeça que só existe fulano ou fulana, que é impossível viver sem essa pessoa? E reparando bem, tirando o rosto que era lindo, o corpo não era lá essas coisas... Na cama era regular, mas no papo um saco, e mentia, dizia tolices, e pensar que quase morro!...

Isso dizes agora, comendo um bife com fritas diante do espetáculo vesperal dos cúmulos e nimbos. Em paz com a vida. Ou não.

Extraído do livro "A estranha vida banal", editora José Olympio - 1989, e consta da antologia "As 100 melhores crônicas brasileiras", Editora Objetiva, pág. 279 - Rio de Janeiro - 2005, organização e introdução de Joaquim Ferreira dos Santos.




Na vitrola: Bruno Vlahek - Prelude, Aria e Scherzo, parte II.